Livros que ao serem tocados sentimos feitos de carne e osso; livros que deixados num quarto escuro de uma fria noite ardem como se queimassem vivos sobre madeiras verdes; livros que o leitor passa a andar pelo mundo após conhecê-los como se também fossem seus personagens…a meu ver são livros que realmente valem a pena avançar suas páginas… Mas eis nossa entrega. O Idioma das Almas Errantes, composto por uma coleção de contos que trafegam pelo cotidiano marginal dos poetas de Curitiba, vislumbra cenas do dia a dia médico na periferia de uma cidade grande brasileira, cruza por submundos noturnos e suas oferendas de sexo, drogas e violência sem recuar nas cenas onde a miséria humana colide com a doença chamada ser humano e ainda viaja pela Amazônia por apenas viajar, pois a pérola dos caminhos do mundo deve ser conquistada… Entretanto, caso o leitor perceba que seu idioma dialoga também com os personagens que reaparecem ao longo dos contos, realmente não saberia dizer se é uma ventura ou apenas outro reconhecimento de sua própria danação sem norte. Para descobrir, à primeira impressão, todos são capazes. Basta apagar as luzes e ficar sozinho. ***“…somos de uma geração de poetas fracassados, escondidos e caídos nos confins da América Latina…poetas que sujaram demais seus versos com as próprias vidas…” “…jamais consegui entender aqueles homens e mulheres que desde cedo aceitam Deus, aceitam o Nada, aceitam um chimpanzé pendurado numa estátua, ou qualquer outra crença; aceitam a sociedade e como foram moldados para estar nela; aqueles que vão se acomodando no mundo até que se veem prontos a pensar cada vez menos. Não pensar é o seu paraíso. A vida é como uma doença fatal anunciada desde o nascimento; alguns aceitam o tratamento, outros preferem fazer de conta que nada está acontecendo…” “…Mesmo que existam seres fora da realidade conhecida por nós, em outro tipo de mundo, eu duvido que eles se importem com nossos pedidos. Para eles, a uma raça tão porca e cruel como a humana, a realidade que temos, decadente, progressivamente enferma, usurpadora, já está de bom tamanho.” ***